Como faço sempre, acordei cedo, abri a janela da sala do apartamento
onde resido no 2º andar, para respirar o ar fresco das seis horas da manhã e
apreciar o gorjear dos passarinhos acordando no quintal arborizado da casa
vizinha.
No muro à menos de oito metros, vi um pássaro desconhecido em pé como se fosse uma estátua pequena. Só mexia a
cabeça de um lado para o outro algumas vezes. Com muitos arbustos e um lindo
gramado no terreno da casa, ele permanecia impassível sobre o muro revestido
de granito.
Na expectativa de movê-lo do lugar,
cumprimentei-o:
Bom dia! Está só esperando o astro
crescer no horizonte para tomar seu banho de Sol. Hem?
O pássaro pareceu entender; virou a
cabeça de lado, olhou na minha direção e piscou o olho.
Sorri. Ele quer conversar. Falei do
Tempo, falei das Flores, mas ficou impassível, não deu sequer um pio. Estaria triste?
Foi minha preocupação imediata. Passei então a observá-lo melhor.
Tinha umas pernas pequenas e finas com
dois dedos ou “garras” em cada pé; um bico alongado que afinava em direção a
ponta onde terminava numa curvatura, como se fosse uma pinça e duas asas com
penas pretas e cinza.
Fiz um trato com o pássaro. Só sairei
da janela quando ele der um pio ou voar. Foram mais de quinze minutos um
olhando para o outro, ambos calados.
Resolvi tentar outra coisa. Vou assobiar uma canção para ver a reação dele.
Resolvi tentar outra coisa. Vou assobiar uma canção para ver a reação dele.
Escolhi a música Carinhoso, de Pixinguinha,
e assobiei:
“Meu coração não sei por que bate
feliz quando te vê e os meus olhos ficam sorrindo e pelas ruas vão te seguindo, mas mesmo assim".....
O pássaro gostou. Bateu as asas, voou duas voltas à frente da janela, deu um trinado e fugiu de mim possivelmente alegre e agradecido. O Zelador que observava
escondido, falou:
- É um pássaro adolescente aprendendo a voar por conta própria. O senhor
conversava com o “bicho”?
- Estávamos apenas compartilhando um momento de
felicidade. Só isto, respondi.