sábado, 23 de maio de 2015

MUDANÇAS DE FASES.





           O jogo da vida é muito difícil. Requer paciência, estudos e persistência.
  A primeira namorada que tentei arranjar disse que eu não era o cara. Insisti: - Eu existo, me dê uma chance.
  
  Não rolou. Ela sorriu, correu para a sala de aula juntando-se às colegas que ficaram zoando de mim.

  Fiquei frustrado. Ela era bonita, alegre, espontânea no falar. Estava nos meus sonhos diariamente.

  Tudo bem. Eu tinha quinze anos, muito pobre, morava na chácara do Sr. Rizlá, onde fazia pequenos serviços e ajudava minha mãe com parte da mesada que recebia.  Fui obrigado pelo patrão a voltar a estudar, pois não havia concluído o 1º grau.
  
  Acordava cedo, cuidava dos animais, rastelava o terreno ao redor da casa, limpava o gramado, tomava o café da manhã e me dirigia à escola. Essa era a rotina diária. Na escola fiz novas amizades e participava das brincadeiras dos colegas e das festividades escolares.
   
  Certo dia, o patrão pediu meus cadernos para verificar se estavam em ordem. Fez-me ler uns trechos de livros e não gostou. Minha leitura em voz alta era horrível, não obedecia pontuações , nem as acentuações  corretas das palavras. Minha escrita também tinha muitos erros.
    
  Para me incentivar prometeu um Real de prêmio para cada prova e trabalho escolar com avaliação acima de oito. Sugeriu que eu lesse no jornal as notícias de futebol, esporte que eu praticava e acompanhava pela televisão. Fui melhorando. Passei a ler outros assuntos e revistas o que ajudou muito na conclusão do lº grau escolar.
   
  Como presente, ganhei matrícula no curso de Informática do SENAC e frequentei o curso do 2º grau com duração de dois anos, num projeto experimental da Secretaria de Educação do Estado.
   
  Aos vinte anos, sem casar, fui pai de um menino. Arranjei um emprego e um substituto para a chácara. Minha união matrimonial não foi durável. Fiquei assim na obrigação de ajudar financeiramente a mãe tão jovem quanto eu, a criar nosso filho.
   
  Eu não sou o cara, pensei.
   
  Fui trabalhar em outra cidade maior em uma firma de concretagem, como ajudante da oficina de manutenção. Lá passei a residir atendendo solicitação do Engenheiro que precisava de alguém a noite para desligar alguns equipamentos. Só passava em casa sábados e domingos. Lembrei-me das palavras do Sr. Rizlá.“Quando a oportunidade bater a sua porta, abre e abrace-a com alegria e determinação. Não a deixe ir embora.”
   
 Após dois anos, atendendo a um Memorando interno, indiquei meu nome para operador de computador para vaga que seria aberta com a saída de um funcionário.  Após uma semana de treinamento fui efetivado, passando a fazer parte do quadro de empregados qualificados.
  
 Em consequência do meu bom desempenho, fui indicado pela firma para fazer um Curso de Logística em dois anos e meio, que ao final, me proporcionou a promoção ao cargo de supervisor aos vinte e seis anos de idade.  Ao participar de um seminário, fui convidado pela filial de Manaus para trabalhar na Amazônia, o que aceitei prontamente com intuito de aprender sempre mais, conhecer novos lugares e fazer novas amizades.
  
  Lá, após três anos fiz amizade com um empresário do Ceará, que conhecedor do meu trabalho, levou-me para Fortaleza, onde resido e trabalho atualmente. Quando saio pela manhã para o trabalho, olho no espelho e digo:
 - Eu jogo o game da vida sempre para mudar de fase. Eu sou o cara.