domingo, 13 de dezembro de 2015

SEVERINO FREEMAN E UM TEATRO DE FANTOCHES



Severino sempre gostou de assistir espetáculos de artistas de rua em suas andanças pelas cidades por onde passava. Esta semana assistiu um espetáculo de fantoches nos arredores da Central do Brasil, ao desembarcar de um trem na cidade do Rio de Janeiro.
Os fantoches contavam a seguinte história: "O FILHO DO PAI".
- Pai! Que surpresa! O senhor já voltou de viagem; vamos a praia hoje?                                                                                
- Calma filho. Hoje tenho uma reunião aqui em casa, depois conversaremos sobre a praia. Está tudo bem em casa e na escola?
- Pai, aqui em casa a mamãe anda muito estranha, nervosa, não me pega mais na escola. Quem me leva e busca é a empregada com o motorista. Não atende o telefone; quando Maristela atende, ela manda dizer que não está. Noutro dia eu perguntei a mamãe se ela tinha conta no exterior. Olhou-me, não respondeu, ficou calada e chorou.
- Menino que história é esta de conta no exterior? Onde você ouviu isto?
- Paizão. Eu li nos jornais que o Senhor assina. É verdade? Os colegas da escola já estão me chamando de "Pinoquinho".
- Não! Claro que não. Por que estão lhe chamando assim?
- Pai. Toda sexta-feira a professora conta uma história para a turma. Na semana passada contou a história de Robin Hood, um ladrão que roubava dos ricos e distribuía para os pobres. Ela explicou que existem vários tipos de ladrões; de celular; de carros; de bancos; ladrão de terno e gravata que roubam dinheiro do governo. Os ladrões bem vestidos são os mais perigosos e muito difícil de prender, porque eles escondem o dinheiro em vários lugares, bem escondidinho, para as autoridades policiais não descobrirem.
- Hum! Não acredito no que estou ouvindo; continue.
- Esta semana a tia está contando a história de um boneco que toda a vez que ele mente, o nariz cresce; eu não entendi porque passaram a me chamar de "pinoquinho".
- Tudo bem. Amanhã vou a escola conversar com a Diretora sobre o apelido e estas histórias.
- Paizão! Cuidado. A Diretora é uma fera. Na última reunião de pais e alunos ela falou que tem a ficha de todos os pais; endereços, telefones e sabe os locais de trabalho de todos.
- Hum! Ficou difícil. Então sua mãe vai falar com a professora. Ainda tem mais histórias?
- Tem mais duas: Robson Crusoé, um homem que ficou sozinho numa ilha conversando com um papagaio. Nem a esposa, nem os filhos foram visitá-los. Uma vida horrível, papai. A última história será Ali Babá e os Quarenta Ladrões. Tem muitos ladrões no mundo, paizão. Todo juiz tem que mandar prender esses ladrões; colocar todos na cadeia, mesmo os de terno e gravata, sem celular.
- Chega!!! Não quero ouvir mais nada. Vai brincar. Some da minha frente!
- Está bom. Vou brincar com o Riquinho lá na piscina.
- Riquinho? Você disse: Riquinho? Quem é este menino?
- Pai, é o filho daquele doleiro, seu amigo que mora na Cobertura.
- Você confundiu. Ele não é doleiro. O nome dele é Antônio, goleiro do nosso time de veteranos. Não esquece: Antônio é goleiro e não doleiro. Amanhã nós iremos a praia bem cedo, prometo.
- Paizão, vamos mesmo a praia? Não mente para mim, o seu nariz já é enorme, se mentir vai explodir. Tchau!