Chovia
em Cabo Frio. Na praia deserta só uma pessoa sentada na areia sob o chapéu de
sol aberto observava solitário o desabar das ondas na areia próximo aos seus
pés. Poucos curiosos que circulavam na calçada percebiam aquela pessoa na chuva
embaixo do chapéu de sol. O Ônibus Jardineira repleto de turistas frustrados
com a chuva intermitente que começara na sexta feira levava-os para um passeio
até o Shopping, pois banho de mar não era possível com a chuva caindo e
temperatura baixa. Fazia frio em Cabo Frio.
Ao verem a cena alguém gritou:
- Olhem um banhista doido. Ele vai mergulhar no mar!
O motorista parou o veículo, juntou-se
aos passageiros e foi observar. Uma adolescente do banco detrás debruçada na
janela exclamou:
- É um poeta!
Todos riram e logo apelidaram o homem de
poeta do mar. O ônibus retomou o percurso, a mocinha lá atrás, tentava explicar
a um grupo porque denominou- o de poeta:
- O homem está apreciando o encontro
das águas do céu com as águas do mar. São trilhões de pingos, talvez mais; deve
estar marcando os intervalos das ondas e ouvindo o som do seu desabar na areia,
como se fosse o palpitar do coração do mar. O poeta é assim. Ele pega um
momento do tempo só para si; não divide com ninguém. Isolado do mundo a sua
volta, extasiado, contempla coisas da natureza que a maioria das pessoas não
vê. Aflora seus sentidos e desfruta daquele momento especial com o prazer de
viver.
- Sonha. Em seus sonhos de olhos
abertos descreve coisas maravilhosas que nos ajudam a viver.
Um silêncio respeitoso se espalhou no
ônibus, onde todos pareciam refletir sobre as explicações da jovem adolescente,
naquele dia frio de chuva fina na praia do Forte em Cabo Frio.