sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

POETA DO MAR





      Chovia em Cabo Frio. Na praia deserta só uma pessoa sentada na areia sob o chapéu de sol aberto observava solitário o desabar das ondas na areia próximo aos seus pés. Poucos curiosos que circulavam na calçada percebiam aquela pessoa na chuva embaixo do chapéu de sol. O Ônibus Jardineira repleto de turistas frustrados com a chuva intermitente que começara na sexta feira levava-os para um passeio até o Shopping, pois banho de mar não era possível com a chuva caindo e temperatura baixa. Fazia frio em Cabo Frio.
       Ao verem a cena alguém gritou:
       - Olhem um banhista doido.  Ele vai mergulhar no mar!
     O motorista parou o veículo, juntou-se aos passageiros e foi observar. Uma adolescente do banco detrás debruçada na janela exclamou:
       - É um poeta!
     Todos riram e logo apelidaram o homem de poeta do mar. O ônibus retomou o percurso, a mocinha lá atrás, tentava explicar a um grupo porque denominou- o de poeta:
        - O homem está apreciando o encontro das águas do céu com as águas do mar. São trilhões de pingos, talvez mais; deve estar marcando os intervalos das ondas e ouvindo o som do seu desabar na areia, como se fosse o palpitar do coração do mar. O poeta é assim. Ele pega um momento do tempo só para si; não divide com ninguém. Isolado do mundo a sua volta, extasiado, contempla coisas da natureza que a maioria das pessoas não vê. Aflora seus sentidos e desfruta daquele momento especial com o prazer de viver.
          - Sonha. Em seus sonhos de olhos abertos descreve coisas maravilhosas que nos ajudam a viver.
        Um silêncio respeitoso se espalhou no ônibus, onde todos pareciam refletir sobre as explicações da jovem adolescente, naquele dia frio de chuva fina na praia do Forte em Cabo Frio.