Há dias, na minha ida à padaria Brioche do
Forte pela manhã, avistava um casal de canários ciscando no estreito gramado
junto à calçada da Avenida do Contorno, no bairro da Passagem, onde moro em
Cabo Frio.
Gostava de vê-los
procurando fiapos de mato seco para construção de seu ninho. Muito singelo e
bonito.
Hoje ao regressar
da padaria, lá estavam os canarinhos, catando o capim seco. Parei e fiquei
observando o vai e vem do casal, quando vi do outro lado da avenida um rapaz aparentando
uns trinta anos de idade com um alçapão armado, tentando atravessar. Chutei uma
latinha de cerveja que estava caída junta ao meio fio, assustando os
passarinhos que voaram para uma casa de cujo terraço pendia inúmeros ramos de
bertalha e outras plantas.
O homem do
alçapão ao completar a travessia da avenida, perguntou-me:
- O Senhor viu os
canarinhos? Há dias tento prendê-los e não consigo.
- Você vai
prender os canários? Que crimes eles cometeram?
O homem olhou-me
surpreso e com uma cara de quem não gostou do que eu disse; retrucou:
- O Senhor está
me gozando; eles não são bandidos. Eu sou passarinheiro; caço pássaros e
passarinhos, os crio e às vezes vendo-os, apurando um dinheirinho.
- Escuta moço, eu
quando era menino também vivia nas matas caçando passarinhos com gaiolas e
alçapões; até pardal e rolinha eu pegava. Mas eu cresci; você deve saber; a
gente cresce. Aprendi e me convenci de que todos os seres vivos da natureza têm
um destino, uma finalidade nas suas curtas vidas.
Veja; os passarinhos se alimentam de insetos,
frutas, sementes e outras coisas; ao evacuarem as sementes e caroços não
digeridos pelos seus estômagos pequenos, replantam as matas e florestas; se
ficarem presos seus destinos serão interrompidos; não mais poderão voar e cantarão
para o dono, um canto repetitivo e triste.
- O bem te vi,
cumprimenta alegre todos que passam; “BEM TE VI”, como se estivesse anunciando alguma
coisa.
-O Urubu tem
penas pretas porque está sempre de luto; lá das alturas ele vê o morto no mato,
rua ou asfalto e desce para limpar o local; é seu destino.
-A borboleta
dança como uma bailarina, pôr sobre flores e folhas, encantando a todos com
suas asas multicores, em sua vida frágil e curta.
-A galinha,
resignada, põe seus ovos e serve de alimento para outros animais. Também é seu
destino.
Como vê meu amigo
passarinheiro, cada um tem um destino em seu curto tempo de vida; inclusive nós
humanos.
Nas minhas voltas
à padaria encontro sempre o passarinheiro, mas nunca mais o vi com gaiola e
alçapão.
Os canários? Continuam lindos e soltos.