sábado, 8 de março de 2014

CURIOSIDADE INFANTIL






        Curiosidade infantil é natural, mas as vezes incomoda. Hoje, logo pela manhã, meu neto de seis anos perguntou:                                     -.
        -Vovô, Deus existe? Como ele é? Conta pra mim.
 Fiquei numa situação muito difícil e resmunguei baixinho:
         -Você conhece Papai Noel?
-Conheço vô!  É o meu pai. Eu vi quando ele de madrugada, descalço, colocou na minha cama uma caixa de presente no dia de natal. Eu gritei e ele levou um susto enorme.   Papai Noel é meu pai, o Senhor sabia?
 Desconversei, mas o molequinho tornou a perguntar:
-Vovô você conhece Saci-Pererê?
-Não, nunca vi. Afirmei pensando encerrar a entrevista.
-Vô, dizem que ele tem uma perna só e fuma cachimbo. Eu não acredito porque é proibido fumar na escola, no hospital, até no ônibus quando saio com minha mãe, eu já vi escrito que é proibido fumar.
-Está certo. Existem muitas coisas que nós adultos criamos para tentar explicar outras coisas que não conhecemos. Tá entendendo?
-Vovô não enrola. Deus existe?
 Menino persistente... vou tentar lhe explicar:
-Você conhece o vento?  Aquele que empina sua pipa.
- Já pegou nele?  Já viu ele?
- Não vô. Não peguei nem vi, mas eu sinto quando ele vem. Não vejo o ar nem o vento, mas sinto quando respiro e quando ele bate no meu rosto.
-Ótimo! Deus é assim. Você não vê,  não pega nele, mas sente que ele está por perto. Está nas ondas dos mares, nas estrelas do céu, nas árvores das florestas, nas matas, nas ruas das cidades. Está em todo lugar.
-Vô. Ele é que nem o vento?
-Hum!...Você ganhou... Eu acho que é.
-Vô! Eu vou brincar, tchau.

-Vai meu querido, vai com vento.


INCRÍVEL


Vovô!  hoje  acordei cedo para tomar café com você, Pode?
   - Claro! Vou guardar o jornal, preparar um leite com chocolate porque hoje está frio, separar uns biscoitos e umas frutas. Vamos conversar até o restante do pessoal acordar.
  - Vô! Ontem a minha mãe estava discutindo com a vovó. Ela quer fazer uma plástica, o senhor sabia?
  - Sua mãe tão nova já quer mexer na natureza?
 -Não vô, é a vovó que vai fazer plástica no rosto. Ela já foi até no médico para fazer uma avaliação e marcar os exames.
 O Sr. Anacleto se engasgou com os biscoitos e cuspiu tudo que estava na boca em cima da mesa, no neto e no chão. Foi um tremendo susto.
  -Nunca!  Eu não vou permitir que aquela menina tão linda que escolhi para minha esposa na juventude, faça uma loucura nessa idade. Ela está doida?
  -Vovô todo mundo faz plástica hoje em dia. O Senhor não vai deixar. Pode fazer isso?
  -Meu filho, não é questão de deixar ou poder, é amor. Eu amo sua avó velhinha do jeito que ela está.  Estou perto de fazer oitenta anos, ela está um pouco mais longe, mas em time que está ganhando não se mexe. Vou lhe contar um caso:
  -Conheci uma mulher cujo marido, meu amigo, faleceu deixando uns bens e uma boa pensão. Ela era uma mulher bonita, mas achava que aos quarenta e nove anos precisava fazer uma plástica no rosto e nos seios. Foi ao médico, fez os exames necessários e internou-se para a tal operação plástica.

   Quando teve alta passou mais de três meses se alimentando de canja, sopa, mingau e vitaminas de frutas, além de outros cuidados médicos até cicatrizar a cirurgia. Foi um tormento. Olhar no espelho nem pensar, ela preferia a opinião dos amigos que a visitavam.
   Estes nunca diziam palavras que pudessem desapontá-la, eram sempre palavras de deslumbramento.
   Um dia ela resolveu visitar um amigo mudo, o espelho, que por não poder falar nunca mente.
   Virou de vários lados, fez caretas, sorriu, ficou sentada fazendo mil poses. O que sentia no íntimo não sei, mas o que o espelho mostrava com sua frieza natural, era horripilante. Quando sorria a sua boca travava como acontece com o computador quando para, era só meio sorriso.
  Se alguém contasse uma boa piada ela não poderia gargalhar sob risco de rasgar os lábios. Os olhos; o da direita só olhava para a esquerda. Muito engraçado. Todos que a encontravam sorriam não por cortesia, mas por causa dos olhos.
  Com o passar do tempo ela sentiu-se incomodada, já não gostava de se olhar no espelho e reclamava com as amigas que seus seios siliconados estavam desproporcionais a sua estatura. Mas mesmo assim se julgava uma garotinha, seminova.
  Um dia resolveu retornar ao médico que a operou. Não  o encontrou, soube que ele havia viajado para o exterior. Ficou triste e chorou. Um olho derramou um rio de lágrimas, o outro, “tô nem aí”, ficou impassível, seco. Foi então a outro médico que a aconselhou a dez sessões com psicólogo porque não havia condições de reverter à cirurgia.
  Mesmo assim a considero uma mulher de sorte, pois perto do carnaval foi convidada a posar para uma fábrica de máscaras, e ganhou um bom dinheiro. A máscara do seu rosto foi um sucesso de vendas no carnaval.
  -Vô, você não está exagerando? Acho esta história incrível.
  -Meu neto se a vovó fizer plástica naquele rostinho lindo repleto de marcas da vida, eu peço divórcio. Fim de conversa.
 
   QUALQUER SEMELHANÇA É MERA COINCIDÊNCIA