sexta-feira, 8 de agosto de 2014

É PSICOLÓGICO...MUITO!




     Achei estranho. Descia do meu apartamento quando ouvi alguém gritar em tom zangado: - Sai Ramiro! Vou lhe dar uma porrada.
    
     Olhei no rumo da voz por entre os pilotis do térreo, avistei um morador, provavelmente novo, pronunciando meu nome. Logo eu, morador antigo sendo  ameaçado por um desconhecido naquela manhã  linda de domingo. Dirigi-me cauteloso ao homem com aparência de uns vinte e sete anos sem me identificar e perguntei o que estava ocorrendo.
   
     -É o meu cachorro. Todos os dias quando desço com ele, quer urinar na porta do elevador.

    
     Surpreso indaguei se o cão tinha o nome de Ramiro. Um pouco encabulado respondeu que sim e explicou:
  
   - É o nome do meu chefe.
     
     Ponderei que isto poderia causar embaraços, pois muitas pessoas têm esse nome. Nunca conhecera cachorro com nome de gente. Ele então retrucou:

  - É psicológico!  Um modo que eu tenho pra não brigar com meu chefe no trabalho quando ele me enche o saco. Eu chego em casa e converso com meu cão.  Ontem mesmo eu disse a ele:
  
  - Ramiro, o dia hoje foi horrível. O seu xará, o chefe Ramirão é um F.da P. Ele me azucrinou o dia todo para terminar uma tarefa que seria para outra semana. É um grande puxa-saco. Tem medo de dizer não ao Diretor.
   
 Ouvi calado e repliquei sorrindo. O cachorro responde?
    
   -Acho que sim. Ele olha pra mim, abana o rabo, lambe minhas mãos, deita aos meus pés.  Fica assistindo televisão comigo numa boa. É um amigão.
     
     Atônito arrisquei outra pergunta. O seu chefe também não é amigo?

   - Aquilo é um terror!  Vive sempre com pressa, reclama de tudo, até da própria sombra. Quando falta algum funcionário, fica logo histérico.
     Abismado fiz uma última pergunta. O Senhor trabalha longe?

   - Não. Eu trabalho no hospital veterinário da cidade. Lá cuidamos de todos os tipos de animais; cão, gato, aves. Já tivemos até um asno internado um mês em tratamento.
     
Fiquei em silêncio por uns segundos, pasmo pensando no asno. Despedi-me sem falar meu nome ao novo morador.
     
 O cachorro não merece.
-



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