A MONTANHA

      Estava sentado à mesa na calçada do restaurante ao ar livre ao lado de um grupo de estudantes que comemoravam aprovação no vestibular da UNB. Um deles erguendo um copo com cerveja gritou alegremente:

     

      É a vida!  Vamos começar a vida. Ei véio!  Vem comemorar conosco. O Senhor está só, junte-se a nós.

      

      Titubiei um pouco, porém outros colegas me pegaram pelo braço, levaram-me para o grupo, onde uma bonita jovem questionou-me se havia problema em ficar com eles.

     

     -Não! Eu estava mesmo admirando a alegria de vocês. Parabéns. Vão começar a vida, mas a vida já começou desde o dia que nasceram,

    

     -Bem! Vamos começar uma nova vida, tio. Ponderou outro do grupo.

      

Como idoso teimoso, repliquei:

     

     -Todo dia é uma vida nova. A vida de vocês começou quando acordaram do ventre de suas mães, tentaram ver o que ocorria lá fora abrindo os olhinhos ofuscados pela claridade externa, começaram a engatinhar, balbuciar palavras, cresceram,  e na adolescência, curiosos que são, avistaram uma montanha a qual teriam que escalar.

      

      Foram anos subindo. Ao olharem para trás, já se passaram vinte anos. Agora são universitários. Quando chegarem ao topo da Montanha da Vida, próximo aos cinquenta anos avistarão uma linda planície, curiosos que são, irão descer descobrindo novas maravilhas da natureza.  Avistarão o mar e alguns irão até à praia.

     

      Até ao mar já se passaram setenta anos. Ficarão menos curiosos e mais teimosos. Recordarão dos tempos de criança, da juventude, e terão desejos de voltar, mas suas forças motoras não permitirão o retorno. A vida vai terminar.

     

      Por isso, ao começarem a subir a montanha da vida, subam devagar, estudem bem os caminhos, tenham cuidados com os despenhadeiros, abismos e buracos. Alguns deles são cruéis, não permitem retornos.

     

      Apreciem as belezas que encontrarem, desfrutem os melhores momentos das caminhadas com sabedoria, respeito e harmonia com a natureza das coisas e das pessoas, aperfeiçoando-se intelectual e espiritualmente para o porvir.

     
       E se alguém morrer nos caminhos tortuosos da montanha, da planície ou da praia. Morra com dignidade.