segunda-feira, 6 de julho de 2015

O SONHO DE UM BICHEIRO


        O Bicheiro Alfredo chegou em casa naquele domingo “chapadão”. Bebeu “todas” durante o churrasco na residência do Sr. Guiomar, seu patrão.
         Apostadores da Banca de Jogos do Bicho ouviam sempre Alfredo elogiar o patrão, mas não o conhecem. Uns dizem que é um homem muito bom; outros diziam que é uma mulher muito “boa”; alguns afirmam que o Banqueiro Guiomar é as duas coisas.
        Alfredo nem chegou a entrar, deitou-se na rede esticada na varanda e adormeceu. Roncava e assobiava tão alto que Elisa, sua esposa, ao escutar o ronco do marido gritou para as crianças:
       -  A panela de pressão chegou! Está lá na varanda. Não acordem ele.
       As duas meninas e o caçulinha correram para ver o pai na ânsia de ganhar guloseimas que ele sempre traz para os filhos. Olharam o pai deitado na rede, mas não ousaram acordá-lo e retornaram aos fundos da casa onde continuaram a brincar.
        Alfredo dormiu das quatro horas da tarde até à meia noite. Acordou, tomou um banho demorado, dirigiu-se para a sala, ligou a televisão e chamou a mulher.
        - Flor. Oh! Flor. Vem cá.
        Elisa não gosta deste chamado. Na verdade, ele a chama nos momentos íntimos de minha couve-flor por ela ser gordinha e bonita. Atendeu ao chamado, sentou-se na poltrona menor de frente ao marido e ficou na expectativa do que ele teria a dizer.
        - Querida! Hoje eu exagerei. Comi e bebi muito. Você me desculpe. Tive um sonho horrível. Escuta só:
        - Estava sentado à beira de um riacho, pescando bem cedinho, ouvi vozes ao redor e fui verificar. Encontrei um macaquinho falante conversando com um papagaio. Ele dizia:
        -  Purrupaco, fui à feira na cidade catar umas bananas, ouvi um falatório sobre um mosquito dengoso que está fazendo o maior sucesso. Ele beija qualquer pessoa que encontra. Deixa ela apaixonada, quente, de olhos brilhantes e corpo todo molenga. O “cara” é poderoso. Tem gente morrendo por causa dele, você sabia?
        -Não!!!  Esta pergunta de novo?  Não aguento mais.  Aqui na mata não tem este beijoqueiro, não.
         A perereca que tomava banho de sol em cima do jacaré, deu sua opinião:
         --É um mosquito importado do Egito. Se aparecer na floresta eu como todos eles.
         O jacaré revirou os olhos para o alto e zangou com a perereca:
        - Você está muito assanhadinha. Quer morrer? Eu a carrego nas costas desde quando éramos filhotes. Você sabe muito bem que a sua perninha defeituosa não lhe permite ficar pulando muito. Sossega perereca assanhada. O mosquito dengoso é um inseto “chique”, vive nas cidades, mora em garrafas plásticas, pneus velhos, vasos de plantas. Aonde houver água  parada é ali que ele gosta de morar. Sua comida favorita é sangue de bicho humano.
        Muito bom jacaré! Aplaudiu o papagaio Purrupaco que alegando sua condição de pássaro voador expressou também sua opinião:
        - Na minha modesta visão este mosquito nasceu em laboratório. Tem até nome científico - AEDES AEGYPTI. Não é problema nosso; é assunto dos Humanos. Eles têm que exterminar o dengoso de todas as cidades senão este inseto vai acabar desfilando na passarela do samba, jogando beijinhos para os turistas.
         - Elisa, foi aí que acordei assustado, suando muito, com dor de cabeça. Será que estou com dengue?
         -Não marido. Foi um sonho sobre um terrível mosquito. Quanto a sua dor de cabeça é uma velha amiga sua. É ressaca. Vou fazer um café amargo com umas pimentas malaguetas amassadas pra você ficar bonzinho. Tem que beber tudo, senão eu faço greve. Entende?
         -Greve!  Logo hoje?  Não!  Pode encher a xícara e vem quente que eu estou fervendo.
       




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