O Bicheiro Alfredo chegou em casa naquele
domingo “chapadão”. Bebeu “todas” durante o churrasco na residência do Sr.
Guiomar, seu patrão.
Apostadores da Banca de Jogos do Bicho
ouviam sempre Alfredo elogiar o patrão, mas não o conhecem. Uns dizem que é um
homem muito bom; outros diziam que é uma mulher muito “boa”; alguns afirmam que
o Banqueiro Guiomar é as duas coisas.
Alfredo nem chegou a entrar, deitou-se
na rede esticada na varanda e adormeceu. Roncava e assobiava tão alto que
Elisa, sua esposa, ao escutar o ronco do marido gritou para as crianças:
- A panela de pressão chegou! Está lá na
varanda. Não acordem ele.
As duas meninas e o caçulinha correram
para ver o pai na ânsia de ganhar guloseimas que ele sempre traz para os
filhos. Olharam o pai deitado na rede, mas não ousaram acordá-lo e retornaram
aos fundos da casa onde continuaram a brincar.
Alfredo dormiu das quatro horas da
tarde até à meia noite. Acordou, tomou um banho demorado, dirigiu-se para a
sala, ligou a televisão e chamou a mulher.
- Flor. Oh! Flor. Vem cá.
Elisa não gosta deste chamado. Na
verdade, ele a chama nos momentos íntimos de minha couve-flor por ela ser
gordinha e bonita. Atendeu ao chamado, sentou-se na poltrona menor de frente ao
marido e ficou na expectativa do que ele teria a dizer.
- Querida! Hoje eu exagerei. Comi e
bebi muito. Você me desculpe. Tive um sonho horrível. Escuta só:
-
Estava sentado à beira de um riacho, pescando bem cedinho, ouvi vozes ao redor
e fui verificar. Encontrei um macaquinho falante conversando com um papagaio.
Ele dizia:
- Purrupaco, fui à feira na cidade catar umas
bananas, ouvi um falatório sobre um mosquito dengoso que está fazendo o maior
sucesso. Ele beija qualquer pessoa que encontra. Deixa ela apaixonada, quente,
de olhos brilhantes e corpo todo molenga. O “cara” é poderoso. Tem gente
morrendo por causa dele, você sabia?
-Não!!!
Esta pergunta de novo? Não
aguento mais. Aqui na mata não tem este
beijoqueiro, não.
A perereca que tomava banho de sol em
cima do jacaré, deu sua opinião:
--É um mosquito importado do Egito. Se
aparecer na floresta eu como todos eles.
O jacaré revirou os olhos para o alto
e zangou com a perereca:
- Você está muito assanhadinha. Quer
morrer? Eu a carrego nas costas desde quando éramos filhotes. Você sabe muito
bem que a sua perninha defeituosa não lhe permite ficar pulando muito. Sossega
perereca assanhada. O mosquito dengoso é um inseto “chique”, vive nas cidades,
mora em garrafas plásticas, pneus velhos, vasos de plantas. Aonde houver água parada é ali que ele gosta de morar. Sua
comida favorita é sangue de bicho humano.
Muito bom jacaré! Aplaudiu o papagaio Purrupaco que alegando sua condição de pássaro voador expressou também sua
opinião:
- Na minha modesta visão este mosquito
nasceu em laboratório. Tem até nome científico - AEDES AEGYPTI. Não é problema
nosso; é assunto dos Humanos. Eles têm que exterminar o dengoso de todas as
cidades senão este inseto vai acabar desfilando na passarela do samba, jogando
beijinhos para os turistas.
- Elisa, foi aí que acordei assustado,
suando muito, com dor de cabeça. Será que estou com dengue?
-Não marido. Foi um sonho sobre um
terrível mosquito. Quanto a sua dor de cabeça é uma velha amiga sua. É ressaca.
Vou fazer um café amargo com umas pimentas malaguetas amassadas pra você ficar
bonzinho. Tem que beber tudo, senão eu faço greve. Entende?
-Greve! Logo hoje? Não!
Pode encher a xícara e vem quente que eu estou fervendo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário