No verão é costume de Alberto, após o
almoço, deitar na sua cama de casal, só de calção de banho, abrir a porta da
sacada do quarto e deixar o vento do mar entrar.
No prédio ao lado semelhante ao seu, duas
mulheres aparentando uns trinta anos sempre apareciam na sacada oposta, ali
ficando a conversar observando Alberto dormindo.
Incomodado com a indiscrição das
vizinhas, resolveu um dia dormir nu. Deitou-se mais cedo e ficou a espreita,
fingindo dormir. Não demorou muito apareceram as duas mulheres que surpresas com
a nova cena chamaram pelo celular outra amiga bem mais velha para se juntar ao
grupo. Ficaram as três “torcendo” para o
homem mudar da posição de bruços para outra, até que ele resolveu virar de barriga
pra cima. Foi um espanto, a mais velhinha correu e trouxe um banquinho onde
subiu pra ver melhor o vizinho dormindo nu. Tanto se mexeu que despencou da
sacada do primeiro andar caindo na piscina do condomínio.
Um alvoroço. Dois banhistas socorreram
a idosa. As amigas desceram correndo pela escada para também socorre-la. O
zelador chamou o Corpo de Bombeiro, que chegou junto com a policia.
A confusão estava formada. Seu Alberto
vestiu o calção de banho, foi até a sacada do seu quarto, passando de observado
a observador. Apreensivo, resolveu descer juntando-se ao público onde ouviu
várias versões sobre queda da idosa, na verdade muito velhinha, que começaram a
circular na boca do povo.
Uns diziam que ela se jogou porque brigou com o
namorado, um rapaz de vinte e cinco anos. Outros diziam que ela foi empurrada
pelo marido traído. Um estudante disse
que vira a velhinha em pé no peitoril da sacada recitando uma poesia do seu
tempo de menina. As amigas ouviam e não comentavam nada, ficavam caladinhas.
Alberto discretamente afastou-se diante
de tantos disparates, retornou ao seu apartamento, onde não conseguiu mais
dormir naquela tarde.
No
dia seguinte um detetive apareceu no prédio do acontecimento, conversou com as amigas
da velhinha mais nada apurou de concreto. Foi à sacada de onde caiu a vítima,
observou a altura da queda, olhou ao redor e viu o Alberto dormindo de calção
no apartamento ao lado. Desconfiado, resolveu visitar o vizinho. Chegando lá
tocou a campainha sendo logo atendido pelo proprietário.
Alberto disse não ter presenciado o
acontecido, estava dormindo e acordou com a gritaria das pessoas, então desceu
para saber a causa de tanto barulho.
O
detetive olhou-o de calção e perguntou:
-O
senhor dorme sempre de calção?
-Claro! Sou casado, tenho esposa e filhos,
vou andar nu pela casa! Respondeu demonstrando irritação.
-
A sua família não está? Perguntou o
detetive na sua tarefa de investigação.
-Não, eles estão na fazenda do meu sogro no
interior de Minas Gerais aproveitando as férias das crianças. Na próxima semana
eles voltam.
-
Tudo bem Sr. Alberto, muito agradecido, despediu-se o agente de policia.
O detetive relatou o caso ao novo
Delegado e este ordenou que fosse ao hospital ouvir a velhinha, pois soubera
que ela está fora de perigo, mas ficará mais uns dias, para recuperação.
Ao chegar ao hospital, encontrou a enfermeira
ministrando remédio à paciente. Ela ainda está muito nervosa, a todo o momento
ela põe as mãos sobre a perna e mede dois palmos, fica falando: belo, que belo,
disse a enfermeira. Eu ainda não entendi; acho que ela está caducando.
O detetive sorriu, olhou a velhinha de mais de
oitenta anos, foi embora sem interrogá-la. Narrou o fato ao Delegado recém-chegado
àquela delegacia dias atrás.
-
Dr. A velhinha está sonhando. Ela vive medindo dois palmos com as mãos sobre a
perna e diz: é belo, que belo. Será ela fã do cantor Belo?
-
Interessante! Muito interessante, vou
visitar o Sr. Alberto agora mesmo, antes que a família dele retorne. Arquive o
caso como insolúvel, disse o Delegado, saindo
apressadinho.
O
detetive ficou pensativo: Este novo delegado é dúbio, muito dúbio.
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