terça-feira, 2 de dezembro de 2014

A CIGANA



 Há tempos idos.

Aguardava o retorno de minha filha da consulta médica no Setor Hospitalar Sul em Brasília, ouvindo músicas no banco do carro, quando se aproximou uma mulher diferente das que circulavam pelo estacionamento.  Trajava um vestido branco longo ornado por uma estola estampada, pulseiras coloridas nos pulsos, dois brincos de argolas dourados e uma flor bonita de plástico nos cabelos compridos.

-O senhor permite eu ler suas mãos? Não vou cobrar nada. Se gostar; dá o que quiser para me ajudar nesta vida.

Surpreso e curioso respondi que não acreditava nessas coisas.

Ela olhou-me suavemente e com tranquilidade perguntou.

-O Senhor não é religioso, acertei?

Encabulado respondi que sim. Realmente não frequento igreja há muito tempo. Sinto-me bem, sabendo que sou um ser material e espiritual em processo contínuo de aperfeiçoamento para outras vidas, talvez.

Ela sorriu, pegou minha mão, fez um afago passando a outra mão dela sobre a palma da mão. Olhou silenciosamente por uns segundos o “M” da minha mão e disse:

-O Senhor é um homem rico.  Acredita?

Incrédulo, perguntei como?  Pois na verdade não era rico.

-O Senhor acha que ser rico é acertar na loteria?  Fique tranquilo, vá para sua casa e continue a ser o homem bom que você é, e verá que estou certa.

Em casa narrei o fato a minha esposa que logo perguntou quanto eu havia dado a tal cigana.

-Dei dez reais, não tinha importância menor na carteira.

-Você é um bobão, acreditando em ciganas.

Fiquei chateado porém sempre intrigado com o acontecido.

Passado vários anos fizemos a nossa festa de cinquenta anos de casados.  Embora estivesse chovido muito na véspera, a maioria dos convidados compareceu ao evento. Lá estavam minhas filhas, meus netos, bisneto, irmãos, sobrinhos, meus amigos, outros amigos de amigos, enfim, foi uma bela confraternização.

Sentado à mesa ao lado do cantor Duda com seu violão, eu observava a alegria de todos e sentia-me muito feliz com aquele momento. 

De repente, estranhamente, veio em mim, a lembrança daquela mulher de vestido longo, pulseiras coloridas e brincos de argolas dourados, dizendo:

“O Senhor é um homem rico”.

Cigana!...Cigana... depois de longo tempo do nosso encontro, entendi.


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