Há tempos idos.
Aguardava o retorno de minha filha da consulta
médica no Setor Hospitalar Sul em Brasília, ouvindo músicas no banco do carro, quando
se aproximou uma mulher diferente das que circulavam pelo estacionamento. Trajava um vestido branco longo ornado por
uma estola estampada, pulseiras coloridas nos pulsos, dois brincos de argolas
dourados e uma flor bonita de plástico nos cabelos compridos.
-O senhor permite eu ler suas
mãos? Não vou cobrar nada. Se gostar; dá
o que quiser para me ajudar nesta vida.
Surpreso e curioso respondi que não
acreditava nessas coisas.
Ela olhou-me suavemente e com
tranquilidade perguntou.
-O Senhor não é religioso, acertei?
Encabulado respondi que sim. Realmente não frequento igreja há muito tempo.
Sinto-me bem, sabendo que sou um ser material e espiritual em processo contínuo
de aperfeiçoamento para outras vidas, talvez.
Ela sorriu, pegou minha mão, fez um
afago passando a outra mão dela sobre a palma da mão. Olhou silenciosamente por
uns segundos o “M” da minha mão e disse:
-O Senhor é um homem rico. Acredita?
Incrédulo, perguntei como? Pois na verdade não era rico.
-O Senhor acha que ser rico é
acertar na loteria? Fique tranquilo, vá
para sua casa e continue a ser o homem bom que você é, e verá que estou certa.
Em casa narrei o fato a minha esposa
que logo perguntou quanto eu havia dado a tal cigana.
-Dei dez reais, não tinha
importância menor na carteira.
-Você é um bobão, acreditando em
ciganas.
Fiquei chateado porém sempre intrigado
com o acontecido.
Passado vários anos fizemos a nossa
festa de cinquenta anos de casados.
Embora estivesse chovido muito na véspera, a maioria dos convidados
compareceu ao evento. Lá estavam minhas filhas, meus netos, bisneto, irmãos,
sobrinhos, meus amigos, outros amigos de amigos, enfim, foi uma bela
confraternização.
Sentado à mesa ao lado do cantor
Duda com seu violão, eu observava a alegria de todos e sentia-me muito feliz
com aquele momento.
De repente, estranhamente, veio em mim, a lembrança daquela mulher de vestido longo, pulseiras coloridas e brincos
de argolas dourados, dizendo:
“O Senhor é um homem rico”.
Cigana!...Cigana... depois de longo tempo do nosso encontro, entendi.