Quarta feira de cinzas aproveitei
que todos os funcionários só trabalhariam após as l2:00 horas, me dirigi ao
escritório pela manhã afim de adiantar minhas tarefas, pois segunda-feira
estarei de férias.
Serão vinte e seis dias rumo ao Nordeste Brasileiro, numa viagem de carro com mais dois amigos, hospedagem já
reservadas e tudo planejado. Estou ansioso por esse momento.
Cheguei à entrada do edifício, olhei
para o alto, me imaginei sozinho trabalhando no 20º andar, após os festejos de
carnaval. Muito profissionalismo mesmo. Entrei, acionei o elevador e o ruído do
gaiolão descendo quebrou o silencio que reinava na área de recepção. Não havia
ninguém, além do porteiro que conversava no celular.
Para meu espanto ao me acomodar no
elevador, embarcou uma bonita mulher, bonita de tudo que sorrindo me perguntou:
--Qual
andar?
- Vigésimo,
respondi.
-Alto hein.
O senhor trabalha lá?
- Trabalho
perto do céu.
Ela não gostou da piada; ficamos
calados enquanto subíamos. Na altura do 6º andar parou o elevador. A moça sacou
da bolsa uma pistola e disse:
-É um
assalto, passa tudo; relógio, cartão de crédito; rápido.
- Calma
moça, tenho que pegar a carteira na pasta que está no chão. Ela virou-se para tentar destravar o
elevador; pulei no braço armado, dei um torsão tão forte que ela gritou de dor
e largou a pistola. Não soltei mais a mulher e falei:
-Não vou
lhe bater; não tente fugir; vamos conversar. Você é maluca? Seguiu-me?
-Foi por
acaso, nós gastamos todo o dinheiro no carnaval; meu namorado deu a ideia de
assaltar alguém num local ermo, pra gente poder viajar de volta para casa.
Quando vi o senhor sozinho, aproveitei.
-E a arma,
onde arranjou?
-É de
brinquedo, não tem munição.
-O que? Não
acredito.
-Verdade,
pode engatilhar e apertar vai ouvir apenas um Traque.
Incrível, assaltado no elevador com
uma arma de brinquedo. Vamos nos acalmar, respirar fundo. Preciso pensar o que
fazer.
Ela sorrindo começou a falar que era
doída mesmo, não precisava fazer aquilo, seus pais tinham recursos; quando sair
dessa situação vou lhe recompensar pelo desconforto.
Não acreditei, mas ela me apertou
contra o seu corpo, beijou-me no pescoço, me acariciou. Não teve jeito, a
adrenalina subiu e o inevitável aconteceu. Subimos quatorze andares agarrados.
Ao desembarcar indiquei a ela o banheiro feminino aonde ajeitou as roupas,
retocou a maquiagem e penteou os cabelos sedosos e perfumados.
Descemos juntos até ao térreo, nos
despedimos, indo ela encontrar-se com o namorado que a esperava num camaro amarelo, no estacionamento
externo.
O porteiro que nos observava,
perguntou-me:
-Este lenço
é seu?
-Olhei o
lenço sujo de batom e disse que não.
-O senhor
atacou aquela mulher? Insistiu o
porteiro.
Esbocei um sorriso tipo Mona Lisa e
neguei novamente, deixando o dedicado funcionário pensativo. Sim ou não.